A partir dos anos 90, o termo ‘Pós’ (Post - do original em
inglês) passou a ser popular para designar vertentes de gêneros ou subgêneros
musicais. No entanto, o termo nasceu lá atrás, na década de 70. Hoje é comum
ver subgêneros como o Post-Hardcore, Post-Grunge e Post Black Metal, que
seguem com variações de suas raízes musicais.
No caso mais especificamente do Pós-Punk, sua base vem do Punk Rock.
O Punk Rock surgiu em meados da década de 1970. Suas raízes remontam o rock de garagem dos anos 60, no entanto, as bandas de Punk Rock rejeitaram os excessos percebidos do rock mainstream dos anos 70. Elas normalmente produziam músicas curtas e rápidas com melodias e estilos de canto secos e agressivos, com uma instrumentação despojada e muitas vezes gritavam letras políticas que se opunham aos princípios sociais, políticos e econômicos convencionais de uma sociedade. O Punk abraça uma ética DIY (Do It Yourself - Faça Você Mesmo, em português) muitas bandas autoproduziam suas gravações e as distribuíam através de gravadoras independentes. Muitas bandas que se estabeleceram no Pós-Punk, começaram no Punk Rock. The Cure, The Fall e Joy Division, por exemplo, tocavam Punk Rock antes de começarem a seguir em direção ao Pós-Punk. Essa direção foi algo natural, visto que essas bandas já tocavam um som com menos agressividade e mais melancolia. Em especial, nas temáticas abordadas nas letras que, ao contrário do grito de "foda-se" - característico do Punk - gritavam "estou fodido".
Joy Division começou com o nome Warsaw. Enquanto Warsaw, tocaram
em alguns clubes e chegaram a gravar uma demo em 1977 e um álbum em 1978. Posteriormente, algumas
das músicas do álbum receberam um novo arranjo e foram regravadas já como Joy
Division.
Para se compreender porquê da mudança do Punk Rock para o
Pós-Punk, precisamos voltar um pouco no tempo e falar sobre a Revolução
Industrial.
O termo Música Industrial se refere ao movimento musical que
surgiu após o crescimento das cidades, devido às indústrias. Obviamente, desde
a Revolução Industrial esse crescimento se fez constante, mas foi no final da
década de 70 e início da de 80 que se tornou ainda mais forte devido a questão
tecnológica que se somava. E, com isso, a música, como a arte num todo, começou
a inovar, criar novos sons. A música para essa nova geração foi chamada de
Industrial. O Rock Industrial se tornou um gênero caracterizado pela mistura
com específicos subgêneros do rock. Assim, o Pós-punk, que surgiu na Inglaterra
após o auge do Punk Rock em 1977 - mantendo as raízes do movimento Punk, porém,
de modo mais introspectivo, poético, minimalista e experimental - encontrava seu
lugar. A rebeldia e revolta do Punk dava lugar à insatisfação interna. Evidentemente,
em qualquer lugar do planeta haviam jovens, ou adultos, sentindo-se tomados pela
apatia, melancolia e sendo esmagados pelo concreto frio que os cercavam, mas, a
Inglaterra tinha um cenário bem mais explícito na época. E, por consequência,
isso gerava um grande peso nas gerações presentes. Ian Curtis expressou isso
muito bem em suas letras. A revolta com o mundo - característica do Punk - se
tornou a revolta interna, o auto-ódio, a exaustão pela existência, a dor de
viver - ou meramente sobreviver - através do Pós-Punk. O Pós-Punk, inclusive, também foi a
base do que veio a ser chamado de Rock Alternativo na década seguinte,
continuando com seu legado de ser a voz de uma geração tomada por uma
urbanização que levou a alegria embora e trouxe um concreto apático. Esse novo gênero
musical que surgia ampliou a estética sonora do Punk Rock para um estilo mais
triste, minimalista e mais livre, explorando uma originalidade sonora, incorporando riffs graves de baixo, guitarras com sonoridades mais simples e
sem muitas variações, mas expressivas o suficiente, uso de sintetizadores e
levadas de baterias repetitivas e marcantes. A melancolia urbana passou a fazer
parte das temáticas de bandas desse gênero.
Aqui estão os jovens, bem, onde estiveram?
Batemos nas portas das salas mais sombrias do inferno
Pressionados ao limite, nos arrastamos para dentro
Assistindo dos bastidores enquanto as cenas se repetiam
Nos vimos agora como nunca tínhamos visto
Um retrato de traumas e degeneração
As mágoas que sofremos e nunca nos libertamos
Exaustos internamente, agora os corações estão perdidos para sempre
Não conseguimos substituir o medo ou a adrenalina da perseguição
Esses rituais nos mostraram a porta para as nossas divagações
Aberta e fechada, então batida na nossa cara"
Como dito acima, com o avanço da Era Industrial, as pessoas
passaram a se concentrar mais nas zonas urbanas, abandonado as rurais. Isso
resultou em mais construções de casas, condomínios, edifícios. O concreto bruto
passou a ser massivo e, principalmente entre os jovens, isso trouxe uma
sensação de sufocamento, de aprisionamento. Claro que a tecnologia trouxe
grandes avanços, aparelhos eletrônicos diversos, meios de agilizar as tarefas diárias,
máquinas para facilitar qualquer trabalho, e telas para se distrair e se
informar mais rapidamente sobre praticamente qualquer assunto, bem como aparelhos
e formas de encurtar distâncias entre pessoas. No entanto, trouxe também as
consequências negativas. O peso da solidão e do isolamento. As pessoas passaram
a se distanciar fisicamente e emocionalmente uma das outras, e a própria
industrialização gerou uma sobrecarga sobre elas, fazendo com que seguissem uma
rotina padronizada, sem tempo para coisas que pudessem trazer algum prazer. Nós
estamos vivendo a 4ª Revolução Industrial, e agora é muito visível como a
solidão tem sido forte sobre as pessoas. Agora, também, há uma maior
visibilidade e disseminação de informações sobre os Transtornos Mentais. Mais
precisamente isso vem sendo feito desde a década de 80, o que não significa que
a Depressão é recente. Obvio que não! O ser humano sofre desses males desde que
começou a olhar para si mesmo e não conseguir digerir seus medos e traumas.
Mas, depois da década de 80, essas questões começaram a deixar de ser tabu, a
chamada “loucura” passou a ser vista como algo sério e que necessitava de meios
humanizados para trazer algum bem-estar aos pacientes. Antes disso, mal se
falava sobre o assunto e os pacientes eram tratados de forma desumana. Usando
Ian ainda como exemplo, hoje se sabe que ele sofria de Depressão Maior e
Epilepsia, ambos os transtornos geravam um desgaste gigantesco, mental e
físico. E, infelizmente, ele encerrou a vida através de suas próprias mãos, com
apenas 23 anos, pois se tornou insuportável viver (ou sobreviver) de tal forma.
Em suas músicas é notável toda sua dor, sua angústia e seu desalento diante da
vida. Foi através da música que ele conseguiu dar vazão as suas mais tortuosas
dores, pois de outras formas não foi possível. A melancolia urbana e as consequências
da solidão em meio às cidades se tornaram recorrentes em seus poemas bem como em
suas composições musicais. Aliada a músicas mais agitadas, até mesmo dançantes,
mas com letras extremamente mórbidas, melancólicas, abordando a morte, a depressão,
a ansiedade, a monotonia e apatia urbana e até o suicídio - influenciadas por
literatura existencialista, niilista, gótica e de fantasia de autores como
Sartre, Kafka, Peake e Camus - o
Pós-Punk se consolidou.
Embora Unknown Pleasures seja a estreia e mesmo um clássico
do Pós-Punk, é com Closer que percebemos a evolução sonora e características
que estabeleceram o Pós-Punk. Com uma instrumentação mais elaborada, com uso
maior de sintetizadores e com letras mais profundas e soturnas, este álbum é
essencial na lista dos percussores do gênero.
Originalmente, o novo gênero que surgia foi chamado de "new musick" (nova música). O termo Post-Punk foi usado pela primeira vez por vários escritores no final da década de 1970 para descrever bandas indo além do modelo de garage rock do Punk e adentrando em sonoridades e temáticas diferentes. O escritor Jon Savage, da revista inglesa Sounds, já usava "Pós-Punk" no início de 1978. Incialmente as bandas que representavam o gênero foram Siousieand the Banshees, Wire, Public Image Ltd., The Pop Group, Cabaret Voltaire, Magazine, Pere Ubu, The Sound, Joy Division, Talking Heads, Devo, Gang of Four, The Slits, The Cure, and The Fall. O movimento estava intimamente relacionado ao desenvolvimento de gêneros como Rock Gótico, Neo-Psicodelia, New Wave, Darkwave e Música Industrial. Com letras repletas de melancolia e angústia, sonoridade dançantes e com seus expoentes criando uma subcultura, o Pós-Punk passou a ser disseminado por todo o planeta. A identificação com os temas e a ironia marcada pela sonoridade envolvente e dançante em contraste com as letras depressivas, foram os fatores que atraíram muitos jovens na época, e continua atraindo até hoje.
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