sábado, 11 de julho de 2020

Punk Rock & Pós-Punk


A partir dos anos 90, o termo ‘Pós’ (Post - do original em inglês) passou a ser popular para designar vertentes de gêneros ou subgêneros musicais. No entanto, o termo nasceu lá atrás, na década de 70. Hoje é comum ver subgêneros como o Post-Hardcore, Post-Grunge e Post Black Metal, que seguem com variações de suas raízes musicais. No caso mais especificamente do Pós-Punk, sua base vem do Punk Rock.

O Punk Rock surgiu em meados da década de 1970. Suas raízes remontam o rock de garagem dos anos 60, no entanto, as bandas de Punk Rock rejeitaram os excessos percebidos do rock mainstream dos anos 70. Elas normalmente produziam músicas curtas e rápidas com melodias e estilos de canto secos e agressivos, com uma instrumentação despojada e muitas vezes gritavam letras políticas que se opunham aos princípios sociais, políticos e econômicos convencionais de uma sociedade. O Punk abraça uma ética DIY (Do It Yourself - Faça Você Mesmo, em português) muitas bandas autoproduziam suas gravações e as distribuíam através de gravadoras independentes. Muitas bandas que se estabeleceram no Pós-Punk, começaram no Punk Rock. The Cure, The Fall e Joy Division, por exemplo, tocavam Punk Rock antes de começarem a seguir em direção ao Pós-Punk. Essa direção foi algo natural, visto que essas bandas já tocavam um som com menos agressividade e mais melancolia. Em especial, nas temáticas abordadas nas letras que, ao contrário do grito de "foda-se" - característico do Punk - gritavam "estou fodido".


The Warsaw Demo, da banda Warsaw, posteriormente batizada de Joy Division, gravada no 18 de julho de 1977. Nesta demo o baterista era Steve Brotherdale, que saiu da banda no mês seguinte, dando lugar a Stephen Morris.

Joy Division começou com o nome Warsaw. Enquanto Warsaw, tocaram em alguns clubes e chegaram a gravar uma demo em 1977 e um álbum em 1978. Posteriormente, algumas das músicas do álbum receberam um novo arranjo e foram regravadas já como Joy Division.

 


Para se compreender porquê da mudança do Punk Rock para o Pós-Punk, precisamos voltar um pouco no tempo e falar sobre a Revolução Industrial.

O termo Música Industrial se refere ao movimento musical que surgiu após o crescimento das cidades, devido às indústrias. Obviamente, desde a Revolução Industrial esse crescimento se fez constante, mas foi no final da década de 70 e início da de 80 que se tornou ainda mais forte devido a questão tecnológica que se somava. E, com isso, a música, como a arte num todo, começou a inovar, criar novos sons. A música para essa nova geração foi chamada de Industrial. O Rock Industrial se tornou um gênero caracterizado pela mistura com específicos subgêneros do rock. Assim, o Pós-punk, que surgiu na Inglaterra após o auge do Punk Rock em 1977 - mantendo as raízes do movimento Punk, porém, de modo mais introspectivo, poético, minimalista e experimental - encontrava seu lugar. A rebeldia e revolta do Punk dava lugar à insatisfação interna. Evidentemente, em qualquer lugar do planeta haviam jovens, ou adultos, sentindo-se tomados pela apatia, melancolia e sendo esmagados pelo concreto frio que os cercavam, mas, a Inglaterra tinha um cenário bem mais explícito na época. E, por consequência, isso gerava um grande peso nas gerações presentes. Ian Curtis expressou isso muito bem em suas letras. A revolta com o mundo - característica do Punk - se tornou a revolta interna, o auto-ódio, a exaustão pela existência, a dor de viver - ou meramente sobreviver - através do Pós-Punk. O Pós-Punk, inclusive, também foi a base do que veio a ser chamado de Rock Alternativo na década seguinte, continuando com seu legado de ser a voz de uma geração tomada por uma urbanização que levou a alegria embora e trouxe um concreto apático. Esse novo gênero musical que surgia ampliou a estética sonora do Punk Rock para um estilo mais triste, minimalista e mais livre, explorando uma originalidade sonora, incorporando riffs graves de baixo, guitarras com sonoridades mais simples e sem muitas variações, mas expressivas o suficiente, uso de sintetizadores e levadas de baterias repetitivas e marcantes. A melancolia urbana passou a fazer parte das temáticas de bandas desse gênero.

 

"Aqui estão os jovens com um peso sobre seus ombros
Aqui estão os jovens, bem, onde estiveram?
Batemos nas portas das salas mais sombrias do inferno
Pressionados ao limite, nos arrastamos para dentro
Assistindo dos bastidores enquanto as cenas se repetiam
Nos vimos agora como nunca tínhamos visto
Um retrato de traumas e degeneração
As mágoas que sofremos e nunca nos libertamos
Exaustos internamente, agora os corações estão perdidos para sempre
Não conseguimos substituir o medo ou a adrenalina da perseguição
Esses rituais nos mostraram a porta para as nossas divagações
Aberta e fechada, então batida na nossa cara"
(Decades, 9ª faixa do álbum Closer)


Como dito acima, com o avanço da Era Industrial, as pessoas passaram a se concentrar mais nas zonas urbanas, abandonado as rurais. Isso resultou em mais construções de casas, condomínios, edifícios. O concreto bruto passou a ser massivo e, principalmente entre os jovens, isso trouxe uma sensação de sufocamento, de aprisionamento. Claro que a tecnologia trouxe grandes avanços, aparelhos eletrônicos diversos, meios de agilizar as tarefas diárias, máquinas para facilitar qualquer trabalho, e telas para se distrair e se informar mais rapidamente sobre praticamente qualquer assunto, bem como aparelhos e formas de encurtar distâncias entre pessoas. No entanto, trouxe também as consequências negativas. O peso da solidão e do isolamento. As pessoas passaram a se distanciar fisicamente e emocionalmente uma das outras, e a própria industrialização gerou uma sobrecarga sobre elas, fazendo com que seguissem uma rotina padronizada, sem tempo para coisas que pudessem trazer algum prazer. Nós estamos vivendo a 4ª Revolução Industrial, e agora é muito visível como a solidão tem sido forte sobre as pessoas. Agora, também, há uma maior visibilidade e disseminação de informações sobre os Transtornos Mentais. Mais precisamente isso vem sendo feito desde a década de 80, o que não significa que a Depressão é recente. Obvio que não! O ser humano sofre desses males desde que começou a olhar para si mesmo e não conseguir digerir seus medos e traumas. Mas, depois da década de 80, essas questões começaram a deixar de ser tabu, a chamada “loucura” passou a ser vista como algo sério e que necessitava de meios humanizados para trazer algum bem-estar aos pacientes. Antes disso, mal se falava sobre o assunto e os pacientes eram tratados de forma desumana. Usando Ian ainda como exemplo, hoje se sabe que ele sofria de Depressão Maior e Epilepsia, ambos os transtornos geravam um desgaste gigantesco, mental e físico. E, infelizmente, ele encerrou a vida através de suas próprias mãos, com apenas 23 anos, pois se tornou insuportável viver (ou sobreviver) de tal forma. Em suas músicas é notável toda sua dor, sua angústia e seu desalento diante da vida. Foi através da música que ele conseguiu dar vazão as suas mais tortuosas dores, pois de outras formas não foi possível. A melancolia urbana e as consequências da solidão em meio às cidades se tornaram recorrentes em seus poemas bem como em suas composições musicais. Aliada a músicas mais agitadas, até mesmo dançantes, mas com letras extremamente mórbidas, melancólicas, abordando a morte, a depressão, a ansiedade, a monotonia e apatia urbana e até o suicídio - influenciadas por literatura existencialista, niilista, gótica e de fantasia de autores como Sartre, Kafka, Peake e Camus  - o Pós-Punk se consolidou.

Embora Unknown Pleasures seja a estreia e mesmo um clássico do Pós-Punk, é com Closer que percebemos a evolução sonora e características que estabeleceram o Pós-Punk. Com uma instrumentação mais elaborada, com uso maior de sintetizadores e com letras mais profundas e soturnas, este álbum é essencial na lista dos percussores do gênero.

 


Originalmente, o novo gênero que surgia foi chamado de "new musick" (nova música). O termo Post-Punk foi usado ​​pela primeira vez por vários escritores no final da década de 1970 para descrever bandas indo além do modelo de garage rock do Punk e adentrando em sonoridades e temáticas diferentes. O escritor Jon Savage, da revista inglesa Sounds, já usava "Pós-Punk" no início de 1978. Incialmente as bandas que representavam o gênero foram Siousieand the Banshees, Wire, Public Image Ltd., The Pop Group, Cabaret Voltaire, Magazine, Pere Ubu, The Sound, Joy Division, Talking Heads, Devo, Gang of Four, The Slits, The Cure, and The Fall. O movimento estava intimamente relacionado ao desenvolvimento de gêneros como Rock Gótico, Neo-Psicodelia, New Wave, Darkwave e Música Industrial. Com letras repletas de melancolia e angústia, sonoridade dançantes e com seus expoentes criando uma subcultura, o Pós-Punk passou a ser disseminado por todo o planeta. A identificação com os temas e a ironia marcada pela sonoridade envolvente e dançante em contraste com as letras depressivas, foram os fatores que atraíram muitos jovens na época, e continua atraindo até hoje.



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Curiosidades

  • Como tantas outras bandas de Pós-Punk percussoras dos anos 80, o Joy Division se formou na cidade de Manchester, mas Ian Curtis cresceu ...