Ian Kevin Curtis, mais conhecido como Ian Curtis, nasceu no
Memorial Hospital em Old Trafford, Manchester, em 1956. Filho do casal da classe trabalhadora Doreen
Elizabeth Curtis e Kevin Curtis, sendo o primeiro filho do casal. Ian cresceu
na área de Hurdsfield em Macclesfield. Ainda muito jovem, Ian já demonstrava
talento para a composição de músicas e poesia. Aos 11 anos de idade, Ian ganhou
uma bolsa de estudos na King's School de Macclesfield. Lá, ele desenvolveu seus
interesses por filosofia, literatura e eminentes poetas como Thom Gunn.
Enquanto na King's School, ele recebeu vários prêmios escolares em
reconhecimento de suas habilidades; particularmente nas idades de 15 e 16 anos.
Embora fosse um ótimo aluno, Ian nunca demonstrou interesse no sucesso
acadêmico, focando seus interesses e ambições na área da indústria musical. No
ano seguinte à formatura de Ian na King's School, a família Curtis comprou uma
casa de um parente e mudou-se para New Moston. Uma estória que a família se lembra bem
é que, quando criança, Ian decidiu ser um dublê e montou um trenó de madeira
como uma plataforma de pouso. Depois de conseguir o apoio de crianças vizinhas,
ele colocou um capacete e pulou do telhado de uma garagem. O “show” deixou seu dublê
machucado e com fraturas por um bom tempo.
Para alguém que veio a ser idolatrado por causa de letras sombrias intensamente introspectivas, Ian teve uma reação alérgica peculiar ao brilho dos raios do sol. Se ele ficasse exposto por muito tempo, suas mãos ficariam vermelhas e inchariam, parecendo um enorme par de luvas de borracha vermelhas.
A música Punk, tal qual um misto de Cavaleiro do Apocalipse
e Dom Quixote, investia contra o gigante em que o Rock havia se transformado,
enquanto uma outra parte do mundo vivia o hedonismo apolítico das discotecas. E
é nesse ambiente caótico, ao som de Sex Pistols e Buzzcocks, em seu quarto, que
Ian Curtis decide que queria cantar. Sua paixão pela música o levou a trabalhar
numa loja de discos por um curto período de tempo. Ian também trabalhou como
funcionário público em Manchester e, mais tarde, em Macclesfield. Desempenhava
a função de recrutador numa agência de empregos. Foi numa entrevista, com uma
garota que possuía Epilepsia, que Ian começou a pensar com frequência na
doença, visto que ele já apresentava alguns episódios de convulsão. Foi
inspirado por essa garota que Ian escreveu a letra da canção She’s Lost Control.
Em 23 de agosto de 1975, Ian se casou com uma amiga de
escola, Deborah Woodruff, na Igreja de St. Thomas, em Henbury. Ele tinha 19
anos e ela 18.
Após assistir a uma apresentação dos Sex Pistols, em 1976,
Ian se convenceu de que queria definitivamente estar no palco, e não no meio do
público. Ian então conheceu os jovens Bernard Sumner e Peter Hook. Ele tinha
visto o cartaz dos dois garotos que estavam tentando formar uma banda e se
propôs a ser o vocalista e compositor das letras. Assim os três então firmaram
um acordo. Logo em seguida, começaram as audições para encontrar um baterista.
Entre muitos candidatos, decidiram por Stephen Morris (Steve) como o quarto
membro da banda. Steve se tornou um grande amigo de Ian, sendo o membro com que
Ian mais compartilhava suas tristezas. Com a formação completa, começaram a
pensar em alguns nomes para a banda como Stiff Kittens, que foi rapidamente
rejeitado. Finalmente batizaram a banda de Warsaw, inspirado no nome da faixa
'Warsawa' do álbum 'Low' de David Bowie. Como Warsaw, se apresentaram em alguns
clubes, já com músicas autorais. Seguiam na linha do Punk Rock e chegaram a
gravar um álbum em 1978. Ainda em 1978, por existir uma outra banda chamada
Warsaw Pact, resolveram escolher outro nome, sendo Joy Division o definitivo.
A banda fez seu primeiro show em 29 de maio de 1977 no Electric Circus, em um show que também incluía a banda Buzzcocks e o poeta performático John Cooper Clarke.
A persistência de Ian foi o que fez a banda conseguir um
contrato de gravação com gravadora Factory Records, de Tony Wilson. Ian
convenceu Tony Wilson a permitir sua banda tocar "Shadowplay" no
Granada Reports - um programa regional de televisão apresentado por Tony. Após
estabelecer a Factory Records com Alan Erasmus, Tony Wilson aceitou a banda no
seu selo.
Durante as apresentações do Joy Division, Ian desenvolveu um
estilo único de dançar, reminiscente dos ataques epiléticos dos quais sofria,
algumas vezes no palco. O efeito era tal que as pessoas que estavam no público
não sabiam se ele estava dançando ou tendo um ataque. Algumas vezes ele desmaiou
e teve que receber atendimento médico ainda no palco, já que sua saúde sofria
com a intensa rotina de apresentações dos Joy Division. A primeira crise epilética de Ian aconteceu no dia 27 de dezembro de 1978, quando a banda
voltava de seu primeiro show realizado em Londres, no pub Hope and Anchor.
Todos ficaram assustados com o ocorrido, e no momento do ataque nem mesmo
sabiam como proceder, eram jovens e nunca tinham presenciado aquilo antes. O
pavor, evidentemente, maior foi de Ian. Após a crise, um sentimento de medo e
vergonha se estabeleceu. Logo ele começou a apresentar sintomas de Agorafobia.
“Ele deixou cair uma jarra de cerveja no palco, quebrou, e
ele rolou no vidro quebrado, fazendo um corte de 25 centímetros na coxa” -
Peter
Unknown Pleasures, o álbum de estreia da banda, foi lançado
em 14 de junho de 1979, pelo selo Factory Records, com produção de Martin Hannett, o mago por trás do som do Joy Division. A capa foi pensada e executada
por Peter Saville, um respeitado designer gráfico, famoso no meio musical.
Nela, Saville reproduz a imagem de ondas de rádio que descrevem a morte de uma estrela. Involuntária e premonitoriamente anuncia o encontro de Ian Curtis (a
estrela) com a morte.
Segundo o respeitado site Rate Your Music, o disco é o 2º
melhor de 1979 (o 1º é London Calling, do The Clash) de uma lista de 1000
álbuns. Ele disputa as 10 primeiras posições com pesos-pesados da importância
de Rust Never Sleeps (Neil Young), It’s Alive (Ramones), além do multiplatinado
The Wall, do Pink Floyd, que ganha o 10º posto. O mesmo site ainda insere
Unknown Pleasures em 25º lugar na lista de álbuns mais importantes de todos os
tempos, que tem 5000 nomes. Mais uma vez, a obra-prima do Pós-Punk divide os 50
primeiros lugares com obras de Jimi Hendrix, John Coltrane, The Beatles, Pink
Floyd, Bob Dylan, entre outros. O álbum foi amplamente alvo de críticas
positivas, inclusive da crítica musical britânica, tida como arrogante. Esse
álbum, chamado de LP, fugiu aos padrões por não possuir lado A nem B, mas “outside”
[fora, exterior], e “inside” [dentro, interior]. O ouvinte escolhia qual lado
ouvir conforme seu estado de espírito. Com o advento do CD, os “lados” obedecem
a esta disposição.
Apesar do relativo sucesso de Unknown Pleasures, Ian
sempre estava sem dinheiro. Ele muitas vezes tinha que limpar o prédio do
estúdio após a gravação para ganhar um extra.
Muitas das canções que Ian escreveu são carregadas com
imagens de dor emocional, morte, violência, alienação e degeneração urbana.
Tais temas recorrentes levaram os fãs, e a esposa de Ian, Deborah, a acreditar
que Ian escrevia sobre sua própria vida. De fato, seus sentimentos sempre foram
genuínos, e ele falava de si e de sua visão de mundo, nas letras e poemas que
escrevia. Certa vez, em uma entrevista, Ian disse: Escrevo sobre as
diferentes formas que diferentes pessoas lidam com certos problemas, e como
essas pessoas podem se adaptar e conviver com ele.
“Tudo o que ele era incapaz de expressar em um nível pessoal
foi derramado em sua escrita, e assim suas letras contam muito mais do que uma
conversa com ele jamais poderia. Um manuscrito com rasuras e correções evoca
uma imagem dele na sala azul [a sala de escrita de Ian em sua casa], andando de
um lado para o outro e fumando, mal percebendo quando deixei uma xícara de chá
na sala.” - relembra Deborah.
Ian cantava com um peculiar timbre baixo-barítono, o que
fazia com que sua voz parecesse pertencer a alguém muito mais velho. Ele era
fascinado pela escaleta Hohner, um instrumento que foi mostrado a ele pela
esposa de Tony Wilson, Lindsay Reade, pouco tempo antes da morte de Ian. Ele
utilizou o instrumento ao vivo pela primeira vez durante uma passagem de som do
Leigh Rock Festival em 1979. Ele começou uma pequena coleção desse instrumento,
possuindo 8 unidades até sua morte. A fascinação de Ian Curtis pela escaleta
levaria Bernard Sumner a utilizar o instrumento tempos depois, no New Order.
Os Joy Division, e em particular Ian, tiveram seu estilo de
gravação desenvolvido pelo produtor Martin Hannett. Alguns de seus trabalhos
mais inovadores foram criados no Cargo Recording Studios em 1979, um estúdio
que fora desenvolvido por John Peel e seus investimentos financeiros. John Peel
era um grande fã do Joy Division e de Ian Curtis.
Ian foi fortemente influenciado pelos escritores William Burroughs, J. G. Ballard e Joseph Conrad - os títulos das canções
"Interzone", "Atrocity Exhibition" e "Colony"
vieram dos três autores, respectivamente. Ian também foi influenciado pelos
vocalistas Jim Morrison, Lou Reed, Iggy Pop e David Bowie, dos quais era muito
fã e passava horas ouvindo discos desses músicos em seu quarto. Suas letras provocavam
uma sensação de perda que parecia ter se originado da paisagem pós-industrial
de Manchester.
Ian Curtis escrevia em letras maiúsculas, muitas vezes com
uma caneta Sharpie. Quando ele queria mudar uma palavra em suas letras ou
notas, ele riscava completamente sua antiga escolha de palavras - como se
quisesse apagá-la da existência. De muitas maneiras, a caligrafia do líder do
Joy Division parece refletir sua personalidade: “Ian era uma pessoa muito
definida”, diz Jon Savage, co-editor de So This Is Permanence, uma coleção de
cadernos de Curtis lançado pela Livros de Crônicas. “Se ele não gostasse de
alguma coisa, acabaria por mostrar seu desagrado.”
Natalie Curtis, a única filha do casal Ian e Deborah, nasceu
em 16 de abril de 1979.
A última apresentação ao vivo de Ian Curtis aconteceu no dia 2 de maio de 1980, na Universidade de Birmingham, 16 dias antes de Ian cometer suicídio. O repertório contava com apenas 11 faixas, não muito longo, e principalmente preenchido por faixas que viriam a ser lançadas no próximo disco, Closer, e seguindo uma coincidência, também não tocaram um de seus maiores sucessos, “Love Will Tear Us Apart”. Essa apresentação incluiu a primeira e última performance da música "Ceremony" pela banda - música que foi depois usada pela banda New Order. Na folha com a lista de músicas desse show, ela foi nomeada como ‘New One’. Ao longo do show, Ian demonstrou uma fadiga atípica, já indicando o que estaria por vir dias depois. Durante a performance de "Decades" - onde o sintetizador superaqueceu e começou a desafinar -perto do fim da apresentação, ele teve um colapso, tropeçou no fio do microfone e precisou ser atendido fora do palco, para voltar em seguida e tocar o bis e aquela que seria a última música que cantou em um palco: "Digital". A gravação da apresentação pode ser encontrada no álbum de compilações Still.
Sinto-me sufocado
O medo o qual eu chamo
Toda vez que eu chamo
Eu me sinto sufocado
Eu me sinto sufocado
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Sinto-me sufocado
Como padrões parecem se formar
Eu sinto frio e calor
As sombras começam a cair
Eu me sinto sufocado
Eu me sinto sufocado
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Eu tenho o mundo ao redor
Para ver o que acontece
Parado perto da porta, sozinho
E então desapareço
Eu te vejo desaparecer
Nunca desapareça
Eu preciso de você aqui hoje
Nunca desapareça
Nunca desapareça
Nunca desapareça
Nunca desapareça
Desapareça, desapareça
Desapareça, desapareça
Desapareça, desapareça
Desapareça
Os problemas pessoais de Ian, como o divórcio conturbado da
sua esposa e um caso extraconjugal com a jornalista belga Annik Honoré bem como
a Epilepsia e uma pressão do meio musical, principalmente pela grande
oportunidade chegando com a turnê internacional, teriam contribuído para o
suicídio de Ian, que se enforcou numa madrugada aos 23 anos de idade. De acordo
com o livro Touching From A Distance, Ian ingeriu uma overdose de medicamentos
para Epilepsia e foi parar num hospital poucos meses antes de sua morte.
Acredita-se que tal overdose tenha sido um "pedido de socorro", mas
Ian disse a seus companheiros de banda que não havia ingerido uma overdose. Obviamente,
ele estava com vergonha, até porque naquela época o suicídio era um assunto ainda mais
tabu do que hoje. O livro conta que Bernard levou Ian a um cemitério após sua
saída do hospital, para lhe mostrar onde ele poderia ter ido parar caso a
overdose tivesse sido fatal. Ian permaneceu em silêncio.
“Ele ficou comigo algumas semanas antes de morrer e eu
tentei faze-lo sair desse estado de espírito, mas, infelizmente, ele não
conseguiu êxito com isso.” - Bernard
Na noite do dia 17 de maio, dias antes do início da primeira
turnê do Joy Division nos Estados Unidos, Ian assistiu a um de seus filmes
favoritos, Stroszek, de Werner Herzog. E nas primeiras
horas da manhã do dia 18 de maio, Ian se enforcou em sua cozinha, utilizando
uma corda que sustentava o varal de roupas, ouvindo o disco The Idiot, primeiro
lançamento do cantor norte-americano Iggy Pop. Os pontos de vista e as
preferências de Ian Curtis continuam a gerar especulações sobre as reais razões
pelas quais ele resolveu tirar a própria vida. O fato é que Ian já era
conturbado em sua adolescência, com pensamentos e ideologias de contracultura,
uma mente provavelmente já farta do mundo ao seu redor. No decorrer dos anos
somou-se a Epilepsia, que consumia demasiadamente sua energia, e a Depressão Maior. Ainda que ele tivesse começado um tratamento médico, naquela época tanto
as informações sobre transtornos mentais quanto os tratamentos eram bastante limitados.
Sua mente perturbada não lhe deu a chance de domar seus fantasmas, suas
dúvidas, suas inquietudes. A Epilepsia, sua maior inimiga, jamais permitiu que
se abrisse para além de seu pequeno mundo. E, num misto de cansaço e desespero,
decidiu matá-la primeiro, de forma premeditada, calculada, mesmo com o
sacrifício da própria vida.
“Ele deve ter ficado acordado a noite toda ouvindo discos,
eu acho, porque um dos discos ainda estava girando na mesa e acho que ele deve
ter decidido me escrever por volta das três horas da manhã porque ele disse que
os pássaros estavam cantando quando ele terminou a carta.” - Deborah
Ian foi cremado e as suas cinzas foram enterradas em
Macclesfield, com uma lápide com a inscrição "Love Will Tear Us
Apart" ("O Amor Vai Nos Separar"). O epitáfio, escolhido por sua
esposa Deborah, é uma referência à canção mais conhecida do Joy Division. Em
2008, a polícia britânica anunciou que essa lápide foi roubada do cemitério. As
autoridades locais buscam testemunhas e investigam, mas, como não havia câmeras
de segurança no local, até hoje não foi descoberto o autor. Pouco tempo depois,
a lápide foi substituída.
Os membros remanescentes do Joy Division formaram a banda
New Order após a morte de Ian. A banda havia feito um acordo de que os Joy
Division não continuariam se um dos membros deixasse a banda ou morresse. O
primeiro álbum dos New Order, Movement, possui uma canção intitulada I.C.B.,
que significa "Ian Curtis Buried" ("Ian Curtis Enterrado").
Em maio de 2007, um filme britânico sobre a vida e a morte
de Ian, intitulado Control, estreou no Festival de Cannes. No papel de Ian
Curtis está o ator britânico Sam Riley (em seu primeiro filme como ator
principal), que nasceu em 1980, cerca de quatro meses antes do suicídio de Ian.
O filme é dirigido pelo neerlandês Anton Corbijn.
Ian Curtis cometeu suicídio em 18 de maio de 1980, um dia
antes da viagem do Joy Division para os Estados Unidos, onde fariam sua
primeira turnê internacional. O curioso é que essa turnê seria a que os levaria
a um público maior e mais abrangente. Se tivesse ocorrido, a banda se tornaria
famosa com Ian ainda vivo.
Devido a problemas na tiragem, o álbum Closer tornou-se um
álbum póstumo, só sendo lançado em julho de 1980. Neste LP, eles se superaram,
com composições que viriam a influenciar quase todo o Pós-Punk. As canções mais
elogiadas pela crítica foram "Isolation", "Passover", "Heart and Soul" e "Twenty Four Hours". O disco conseguiu chegar ao 6.º
lugar dos tops ingleses e liderou as paradas alternativas.
Apesar dos problemas pessoais de Curtis, o Joy Division
terminou de gravar seu segundo álbum, Closer, em 1980. Ainda considerado um dos
grandes álbuns de rock dos anos 80, as letras fazem uma audição perturbadora. Combinam
um senso medieval de mortalidade com uma consciência das provações e horrores
do século 20 .
Em setembro de 1980, a começar pelos singles "Atmosphere"/"She's Lost Control" (sendo esta refeita, com uma levada mais dançante), vieram os lançamentos póstumos. No ano seguinte, veio o duplo Still, com várias sobras de estúdio e o registro do último concerto do Joy Division. Substance, lançado em 1988, é uma coletânea de singles e lados B. Permanent, editado sete anos depois, em 1995, compilou 15 clássicos, mais uma regravação de Love Will Tear Us Apart, Nessa versão, foram adicionadas guitarras e reduzido o som do baixo de Peter. Heart and Soul é uma caixa com 4 CDs, que reúnem praticamente tudo que eles gravaram.
Alguns meses depois do suicídio do vocalista Ian Curtis, os outros
membros da banda formaram o New Order.
A influência do quarteto no rock mundial permanece, como
provam bandas como Editors, Interpol e Franz Ferdinand, She Wants Revenge, The Killers (que inclusive têm "Shadowplay" como faixa do
álbum Sawdust e faz parte da trilha sonora do filme Control), além de serem
grandes ídolos de outros artistas, como Trent Reznor do Nine Inch Nails, Thom Yorke do Radiohead, Billy Corgan do Smashing Pumpkins, Jonas Bergqvist do Lifelover, e, no Brasil, do falecido
líder da banda Legião Urbana, Renato Russo.
Os membros do Joy Division foram influenciados por artistas
que eles acreditavam transpor algumas verdades sobre o sistema em que viviam,
dentre esses encontramos The Doors, Velvet Underground, David Bowie, Sex Pistols
e Iggy Pop, bem como Kraftwerk, banda que posteriormente se tornou uma
influência muito maior para o New Order. Eles também citaram Siouxsie and the Banshees como uma de suas principais influências.
O Joy Division começou tocando Punk Rock mas evoluiu para o
Pós-Punk logo no primeiro álbum. A sonoridade do grupo passou a ser muito
criativa e melancólica. O crítico Simon Reynolds afirmou que "A
originalidade do Joy Division se tornou realmente evidente quando suas músicas
ficaram mais lentas." Na descrição de Reynolds "O baixo de Peter Hook
era responsável pela melodia, a guitarra de Bernard Sumner preenchia as lacunas
ao invés de encher o som do grupo com riffs densos e a bateria de Stephen
Morris parecia circular o contorno de uma cratera." Bernard também
descreveu o som característico da banda, em 1994: "Ele saiu naturalmente:
Eu trabalhava mais com ritmo e acordes, e o Peter com melodia. Ele costumava
tocar o baixo muito alto porque eu gostava que minha guitarra soasse
distorcida, e o amplificador que eu tinha só funcionava no volume máximo.
Quando Peter tocava o baixo, ele não podia ouvir a si mesmo. Steve tem seu
próprio estilo de tocar, que é diferente dos outros bateristas. Para mim, o
baterista em uma banda é o relógio, mas Steve não seria o relógio, porque ele é
passivo: ele seguia o ritmo da banda, o que nos deu a nossa vantagem
própria". O timbre vocal de Ian não era dotado de muita técnica, mas isso
não o impediu de cantar em um baixo-barítono influenciado por um dos artistas
que mais prestigiava, Jim Morrison do The Doors.
Bernard atuou como diretor musical não-oficial da banda, um
papel que ele transitou para o New Order. Enquanto Bernard era o guitarrista
principal do grupo, Ian tocou o instrumento em algumas músicas gravadas e
durante alguns shows. Ian odiava tocar guitarra, mas a banda insistiu que ele
fizesse isso. Bernard disse: "Ele tocava de forma bastante bizarra, o que
para nós foi interessante, porque ninguém mais iria tocar como Ian". É
visível esse modo peculiar nos shows e em alguns clipes, Ian deixava a guitarra mais alta que normalmente guitarristas deixam no corpo, e batia nas cordas sem
muita atenção, demonstrando sua frustração por tocar o instrumento, cujo não
queria. Durante as sessões de gravação de Closer, Bernard começou a usar
sintetizadores construídos por ele mesmo e Peter começou a usar também um baixo
de seis cordas para intensificar a melodia do grupo.
"Lembro-me de uma noite em que estávamos gravando Closer,
muito tarde, deve ter sido por volta das quatro horas da manhã e eu estava
perguntando a ele como estava sua letra e ele disse que estava incrível. Ele
disse ‘está vindo uma após a outra, estou escrevendo muito rápido e sei
exatamente onde está o final da música’." - Bernard
Ian escrevia letras freneticamente, então letras não
faltavam para usar. Normalmente, ele primeiro ouvia o som instrumental feito
pelos outros integrantes e depois inseria as letras mais adequadas. Palavras
como "escuridão, pressão, frieza, fracasso, crise, colapso, perda de
controle" se repetem nas canções da banda. As letras de Ian tratavam de
temas depressivos, soturnos e cotidianos. Os outros integrantes afirmam que as
letras refletiam profundamente a vida pessoal dele, mas que só perceberam isso
depois que ele se suicidou, o que trouxe muito arrependimento aos mesmos, por
não perceberem que se tratava de algo mais profundo que meros temas. O
musicólogo Robert Palmer escreveu na revista Musician que os escritos de
William S. Burroughs e J.G. Ballard eram "influências óbvias" para Ian,
e Steve também se lembrou do cantor lendo T.S. Eliot. Ian simbolizou o clima
de melancolia existencial que simbolizava uma das principais exportações
musicais da Grã-Bretanha na década de 1980. Voltando a revolução Punk para
dentro, as letras sombrias de Ian enfureceram a condição humana. Ele
transformou as letras musicais de uma mensagem de “foda-se” para “estou
fodido”.
O produtor Martin Hannett ajudou muito o Joy Division a
desenvolver sua identidade sonora. Hannet teve como objetivo criar um som mais
expansivo nos registros do grupo, colaborou bastante na inserção de elementos
eletrônicos e deu destaque na “separação do som limpo e claro”, não só para
instrumentos individuais, mas mesmo para peças individuais na bateria de Steve.
A característica mais marcante do Joy Division é sua sonoridade melancólica acompanhada
de melodias com temas existenciais, depressivos e paisagens da vida urbana em
meio à revolução industrial.
Atualmente, Peter Hook não está mais na banda New Order.
Formou a banda Peter Hook and the Light no ano de 2010 e segue fazendo shows
tocando músicas do Joy Division e algumas autorais. A filha de Ian, Natalie, é
fotógrafa e acompanhou de perto as gravações do filme Control, que conta a
trajetória de seu pai.
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