quinta-feira, 9 de julho de 2020

Sr. Melancolia

 


Ian Kevin Curtis, mais conhecido como Ian Curtis, nasceu no Memorial Hospital em Old Trafford, Manchester, em 1956.  Filho do casal da classe trabalhadora Doreen Elizabeth Curtis e Kevin Curtis, sendo o primeiro filho do casal. Ian cresceu na área de Hurdsfield em Macclesfield. Ainda muito jovem, Ian já demonstrava talento para a composição de músicas e poesia. Aos 11 anos de idade, Ian ganhou uma bolsa de estudos na King's School de Macclesfield. Lá, ele desenvolveu seus interesses por filosofia, literatura e eminentes poetas como Thom Gunn. Enquanto na King's School, ele recebeu vários prêmios escolares em reconhecimento de suas habilidades; particularmente nas idades de 15 e 16 anos. Embora fosse um ótimo aluno, Ian nunca demonstrou interesse no sucesso acadêmico, focando seus interesses e ambições na área da indústria musical. No ano seguinte à formatura de Ian na King's School, a família Curtis comprou uma casa de um parente e mudou-se para New Moston. Uma estória que a família se lembra bem é que, quando criança, Ian decidiu ser um dublê e montou um trenó de madeira como uma plataforma de pouso. Depois de conseguir o apoio de crianças vizinhas, ele colocou um capacete e pulou do telhado de uma garagem. O “show” deixou seu dublê machucado e com fraturas por um bom tempo.

Para alguém que veio a ser idolatrado por causa de letras sombrias intensamente introspectivas, Ian teve uma reação alérgica peculiar ao brilho dos raios do sol. Se ele ficasse exposto por muito tempo, suas mãos ficariam vermelhas e inchariam, parecendo um enorme par de luvas de borracha vermelhas.


A música Punk, tal qual um misto de Cavaleiro do Apocalipse e Dom Quixote, investia contra o gigante em que o Rock havia se transformado, enquanto uma outra parte do mundo vivia o hedonismo apolítico das discotecas. E é nesse ambiente caótico, ao som de Sex Pistols e Buzzcocks, em seu quarto, que Ian Curtis decide que queria cantar. Sua paixão pela música o levou a trabalhar numa loja de discos por um curto período de tempo. Ian também trabalhou como funcionário público em Manchester e, mais tarde, em Macclesfield. Desempenhava a função de recrutador numa agência de empregos. Foi numa entrevista, com uma garota que possuía Epilepsia, que Ian começou a pensar com frequência na doença, visto que ele já apresentava alguns episódios de convulsão. Foi inspirado por essa garota que Ian escreveu a letra da canção She’s Lost Control.



Em 23 de agosto de 1975, Ian se casou com uma amiga de escola, Deborah Woodruff, na Igreja de St. Thomas, em Henbury. Ele tinha 19 anos e ela 18.

Após assistir a uma apresentação dos Sex Pistols, em 1976, Ian se convenceu de que queria definitivamente estar no palco, e não no meio do público. Ian então conheceu os jovens Bernard Sumner e Peter Hook. Ele tinha visto o cartaz dos dois garotos que estavam tentando formar uma banda e se propôs a ser o vocalista e compositor das letras. Assim os três então firmaram um acordo. Logo em seguida, começaram as audições para encontrar um baterista. Entre muitos candidatos, decidiram por Stephen Morris (Steve) como o quarto membro da banda. Steve se tornou um grande amigo de Ian, sendo o membro com que Ian mais compartilhava suas tristezas. Com a formação completa, começaram a pensar em alguns nomes para a banda como Stiff Kittens, que foi rapidamente rejeitado. Finalmente batizaram a banda de Warsaw, inspirado no nome da faixa 'Warsawa' do álbum 'Low' de David Bowie. Como Warsaw, se apresentaram em alguns clubes, já com músicas autorais. Seguiam na linha do Punk Rock e chegaram a gravar um álbum em 1978. Ainda em 1978, por existir uma outra banda chamada Warsaw Pact, resolveram escolher outro nome, sendo Joy Division o definitivo.

A banda fez seu primeiro show em 29 de maio de 1977 no Electric Circus, em um show que também incluía a banda Buzzcocks e o poeta performático John Cooper Clarke.

A persistência de Ian foi o que fez a banda conseguir um contrato de gravação com gravadora Factory Records, de Tony Wilson. Ian convenceu Tony Wilson a permitir sua banda tocar "Shadowplay" no Granada Reports - um programa regional de televisão apresentado por Tony. Após estabelecer a Factory Records com Alan Erasmus, Tony Wilson aceitou a banda no seu selo.

Durante as apresentações do Joy Division, Ian desenvolveu um estilo único de dançar, reminiscente dos ataques epiléticos dos quais sofria, algumas vezes no palco. O efeito era tal que as pessoas que estavam no público não sabiam se ele estava dançando ou tendo um ataque. Algumas vezes ele desmaiou e teve que receber atendimento médico ainda no palco, já que sua saúde sofria com a intensa rotina de apresentações dos Joy Division. A primeira crise   epilética de Ian aconteceu no dia 27 de dezembro de 1978, quando a banda voltava de seu primeiro show realizado em Londres, no pub Hope and Anchor. Todos ficaram assustados com o ocorrido, e no momento do ataque nem mesmo sabiam como proceder, eram jovens e nunca tinham presenciado aquilo antes. O pavor, evidentemente, maior foi de Ian. Após a crise, um sentimento de medo e vergonha se estabeleceu. Logo ele começou a apresentar sintomas de Agorafobia.

“Ele deixou cair uma jarra de cerveja no palco, quebrou, e ele rolou no vidro quebrado, fazendo um corte de 25 centímetros na coxa” - Peter



Unknown Pleasures, o álbum de estreia da banda, foi lançado em 14 de junho de 1979, pelo selo Factory Records, com produção de Martin Hannett, o mago por trás do som do Joy Division. A capa foi pensada e executada por Peter Saville, um respeitado designer gráfico, famoso no meio musical. Nela, Saville reproduz a imagem de ondas de rádio que descrevem a morte de uma estrela. Involuntária e premonitoriamente anuncia o encontro de Ian Curtis (a estrela) com a morte.

Segundo o respeitado site Rate Your Music, o disco é o 2º melhor de 1979 (o 1º é London Calling, do The Clash) de uma lista de 1000 álbuns. Ele disputa as 10 primeiras posições com pesos-pesados da importância de Rust Never Sleeps (Neil Young), It’s Alive (Ramones), além do multiplatinado The Wall, do Pink Floyd, que ganha o 10º posto. O mesmo site ainda insere Unknown Pleasures em 25º lugar na lista de álbuns mais importantes de todos os tempos, que tem 5000 nomes. Mais uma vez, a obra-prima do Pós-Punk divide os 50 primeiros lugares com obras de Jimi Hendrix, John Coltrane, The Beatles, Pink Floyd, Bob Dylan, entre outros. O álbum foi amplamente alvo de críticas positivas, inclusive da crítica musical britânica, tida como arrogante. Esse álbum, chamado de LP, fugiu aos padrões por não possuir lado A nem B, mas “outside” [fora, exterior], e “inside” [dentro, interior]. O ouvinte escolhia qual lado ouvir conforme seu estado de espírito. Com o advento do CD, os “lados” obedecem a esta disposição.

Apesar do relativo sucesso de Unknown Pleasures, Ian sempre estava sem dinheiro. Ele muitas vezes tinha que limpar o prédio do estúdio após a gravação para ganhar um extra.

Muitas das canções que Ian escreveu são carregadas com imagens de dor emocional, morte, violência, alienação e degeneração urbana. Tais temas recorrentes levaram os fãs, e a esposa de Ian, Deborah, a acreditar que Ian escrevia sobre sua própria vida. De fato, seus sentimentos sempre foram genuínos, e ele falava de si e de sua visão de mundo, nas letras e poemas que escrevia. Certa vez, em uma entrevista, Ian disse: Escrevo sobre as diferentes formas que diferentes pessoas lidam com certos problemas, e como essas pessoas podem se adaptar e conviver com ele.



“Tudo o que ele era incapaz de expressar em um nível pessoal foi derramado em sua escrita, e assim suas letras contam muito mais do que uma conversa com ele jamais poderia. Um manuscrito com rasuras e correções evoca uma imagem dele na sala azul [a sala de escrita de Ian em sua casa], andando de um lado para o outro e fumando, mal percebendo quando deixei uma xícara de chá na sala.” - relembra Deborah.

Ian cantava com um peculiar timbre baixo-barítono, o que fazia com que sua voz parecesse pertencer a alguém muito mais velho. Ele era fascinado pela escaleta Hohner, um instrumento que foi mostrado a ele pela esposa de Tony Wilson, Lindsay Reade, pouco tempo antes da morte de Ian. Ele utilizou o instrumento ao vivo pela primeira vez durante uma passagem de som do Leigh Rock Festival em 1979. Ele começou uma pequena coleção desse instrumento, possuindo 8 unidades até sua morte. A fascinação de Ian Curtis pela escaleta levaria Bernard Sumner a utilizar o instrumento tempos depois, no New Order.

Os Joy Division, e em particular Ian, tiveram seu estilo de gravação desenvolvido pelo produtor Martin Hannett. Alguns de seus trabalhos mais inovadores foram criados no Cargo Recording Studios em 1979, um estúdio que fora desenvolvido por John Peel e seus investimentos financeiros. John Peel era um grande fã do Joy Division e de Ian Curtis.

Ian foi fortemente influenciado pelos escritores William Burroughs, J. G. Ballard e Joseph Conrad - os títulos das canções "Interzone", "Atrocity Exhibition" e "Colony" vieram dos três autores, respectivamente. Ian também foi influenciado pelos vocalistas Jim Morrison, Lou Reed, Iggy Pop e David Bowie, dos quais era muito fã e passava horas ouvindo discos desses músicos em seu quarto. Suas letras provocavam uma sensação de perda que parecia ter se originado da paisagem pós-industrial de Manchester.

Ian Curtis escrevia em letras maiúsculas, muitas vezes com uma caneta Sharpie. Quando ele queria mudar uma palavra em suas letras ou notas, ele riscava completamente sua antiga escolha de palavras - como se quisesse apagá-la da existência. De muitas maneiras, a caligrafia do líder do Joy Division parece refletir sua personalidade: “Ian era uma pessoa muito definida”, diz Jon Savage, co-editor de So This Is Permanence, uma coleção de cadernos de Curtis lançado pela Livros de Crônicas. “Se ele não gostasse de alguma coisa, acabaria por mostrar seu desagrado.”



Natalie Curtis, a única filha do casal Ian e Deborah, nasceu em 16 de abril de 1979.




A última apresentação ao vivo de Ian Curtis aconteceu no dia 2 de maio de 1980, na Universidade de Birmingham, 16 dias antes de Ian cometer suicídio. O repertório contava com apenas 11 faixas, não muito longo, e principalmente preenchido por faixas que viriam a ser lançadas no próximo disco, Closer, e seguindo uma coincidência, também não tocaram um de seus maiores sucessos, “Love Will Tear Us Apart”. Essa apresentação incluiu a primeira e última performance da música "Ceremony" pela banda - música que foi depois usada pela banda New Order. Na folha com a lista de músicas desse show, ela foi nomeada como ‘New One’. Ao longo do show, Ian demonstrou uma fadiga atípica, já indicando o que estaria por vir dias depois. Durante a performance de "Decades" - onde o sintetizador superaqueceu e começou a desafinar -perto do fim da apresentação, ele teve um colapso, tropeçou no fio do microfone e precisou ser atendido fora do palco, para voltar em seguida e tocar o bis e aquela que seria a última música que cantou em um palco: "Digital". A gravação da apresentação pode ser encontrada no álbum de compilações Still.

Sinto-me sufocado
Sinto-me sufocado
O medo o qual eu chamo
Toda vez que eu chamo
Eu me sinto sufocado
Eu me sinto sufocado
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
 
Sinto-me sufocado
Como padrões parecem se formar
Eu sinto frio e calor
As sombras começam a cair
Eu me sinto sufocado
Eu me sinto sufocado
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
Dia sim, dia não
 
Eu tenho o mundo ao redor
Para ver o que acontece
Parado perto da porta, sozinho
E então desapareço
Eu te vejo desaparecer
Nunca desapareça
Eu preciso de você aqui hoje
Nunca desapareça
Nunca desapareça
Nunca desapareça
Nunca desapareça
Desapareça, desapareça
Desapareça, desapareça
Desapareça, desapareça
Desapareça

 (Letra de Digital)

 

Os problemas pessoais de Ian, como o divórcio conturbado da sua esposa e um caso extraconjugal com a jornalista belga Annik Honoré bem como a Epilepsia e uma pressão do meio musical, principalmente pela grande oportunidade chegando com a turnê internacional, teriam contribuído para o suicídio de Ian, que se enforcou numa madrugada aos 23 anos de idade. De acordo com o livro Touching From A Distance, Ian ingeriu uma overdose de medicamentos para Epilepsia e foi parar num hospital poucos meses antes de sua morte. Acredita-se que tal overdose tenha sido um "pedido de socorro", mas Ian disse a seus companheiros de banda que não havia ingerido uma overdose. Obviamente, ele estava com vergonha, até porque naquela época o suicídio era um assunto ainda mais tabu do que hoje. O livro conta que Bernard levou Ian a um cemitério após sua saída do hospital, para lhe mostrar onde ele poderia ter ido parar caso a overdose tivesse sido fatal. Ian permaneceu em silêncio.

“Ele ficou comigo algumas semanas antes de morrer e eu tentei faze-lo sair desse estado de espírito, mas, infelizmente, ele não conseguiu êxito com isso.” - Bernard

Na noite do dia 17 de maio, dias antes do início da primeira turnê do Joy Division nos Estados Unidos, Ian assistiu a um de seus filmes favoritos, Stroszek, de Werner Herzog. E nas primeiras horas da manhã do dia 18 de maio, Ian se enforcou em sua cozinha, utilizando uma corda que sustentava o varal de roupas, ouvindo o disco The Idiot, primeiro lançamento do cantor norte-americano Iggy Pop. Os pontos de vista e as preferências de Ian Curtis continuam a gerar especulações sobre as reais razões pelas quais ele resolveu tirar a própria vida. O fato é que Ian já era conturbado em sua adolescência, com pensamentos e ideologias de contracultura, uma mente provavelmente já farta do mundo ao seu redor. No decorrer dos anos somou-se a Epilepsia, que consumia demasiadamente sua energia, e a Depressão Maior. Ainda que ele tivesse começado um tratamento médico, naquela época tanto as informações sobre transtornos mentais quanto os tratamentos eram bastante limitados. Sua mente perturbada não lhe deu a chance de domar seus fantasmas, suas dúvidas, suas inquietudes. A Epilepsia, sua maior inimiga, jamais permitiu que se abrisse para além de seu pequeno mundo. E, num misto de cansaço e desespero, decidiu matá-la primeiro, de forma premeditada, calculada, mesmo com o sacrifício da própria vida.

“Ele deve ter ficado acordado a noite toda ouvindo discos, eu acho, porque um dos discos ainda estava girando na mesa e acho que ele deve ter decidido me escrever por volta das três horas da manhã porque ele disse que os pássaros estavam cantando quando ele terminou a carta.” - Deborah



Ian foi cremado e as suas cinzas foram enterradas em Macclesfield, com uma lápide com a inscrição "Love Will Tear Us Apart" ("O Amor Vai Nos Separar"). O epitáfio, escolhido por sua esposa Deborah, é uma referência à canção mais conhecida do Joy Division. Em 2008, a polícia britânica anunciou que essa lápide foi roubada do cemitério. As autoridades locais buscam testemunhas e investigam, mas, como não havia câmeras de segurança no local, até hoje não foi descoberto o autor. Pouco tempo depois, a lápide foi substituída.

Os membros remanescentes do Joy Division formaram a banda New Order após a morte de Ian. A banda havia feito um acordo de que os Joy Division não continuariam se um dos membros deixasse a banda ou morresse. O primeiro álbum dos New Order, Movement, possui uma canção intitulada I.C.B., que significa "Ian Curtis Buried" ("Ian Curtis Enterrado").

Em maio de 2007, um filme britânico sobre a vida e a morte de Ian, intitulado Control, estreou no Festival de Cannes. No papel de Ian Curtis está o ator britânico Sam Riley (em seu primeiro filme como ator principal), que nasceu em 1980, cerca de quatro meses antes do suicídio de Ian. O filme é dirigido pelo neerlandês Anton Corbijn.

Ian Curtis cometeu suicídio em 18 de maio de 1980, um dia antes da viagem do Joy Division para os Estados Unidos, onde fariam sua primeira turnê internacional. O curioso é que essa turnê seria a que os levaria a um público maior e mais abrangente. Se tivesse ocorrido, a banda se tornaria famosa com Ian ainda vivo.

Devido a problemas na tiragem, o álbum Closer tornou-se um álbum póstumo, só sendo lançado em julho de 1980. Neste LP, eles se superaram, com composições que viriam a influenciar quase todo o Pós-Punk. As canções mais elogiadas pela crítica foram "Isolation", "Passover", "Heart and Soul" e "Twenty Four Hours". O disco conseguiu chegar ao 6.º lugar dos tops ingleses e liderou as paradas alternativas.

Apesar dos problemas pessoais de Curtis, o Joy Division terminou de gravar seu segundo álbum, Closer, em 1980. Ainda considerado um dos grandes álbuns de rock dos anos 80, as letras fazem uma audição perturbadora. Combinam um senso medieval de mortalidade com uma consciência das provações e horrores do século 20 .

Em setembro de 1980, a começar pelos singles "Atmosphere"/"She's Lost Control" (sendo esta refeita, com uma levada mais dançante), vieram os lançamentos póstumos. No ano seguinte, veio o duplo Still, com várias sobras de estúdio e o registro do último concerto do Joy Division. Substance, lançado em 1988, é uma coletânea de singles e lados B. Permanent, editado sete anos depois, em 1995, compilou 15 clássicos, mais uma regravação de Love Will Tear Us Apart, Nessa versão, foram adicionadas guitarras e reduzido o som do baixo de Peter. Heart and Soul é uma caixa com 4 CDs, que reúnem praticamente tudo que eles gravaram.

Alguns meses depois do suicídio do vocalista Ian Curtis, os outros membros da banda formaram o New Order.

 


A influência do quarteto no rock mundial permanece, como provam bandas como Editors, Interpol e Franz Ferdinand, She Wants Revenge, The Killers (que inclusive têm "Shadowplay" como faixa do álbum Sawdust e faz parte da trilha sonora do filme Control), além de serem grandes ídolos de outros artistas, como Trent Reznor do Nine Inch Nails, Thom Yorke do Radiohead, Billy Corgan do Smashing Pumpkins, Jonas Bergqvist do Lifelover, e, no Brasil, do falecido líder da banda Legião Urbana, Renato Russo.

Os membros do Joy Division foram influenciados por artistas que eles acreditavam transpor algumas verdades sobre o sistema em que viviam, dentre esses encontramos The Doors, Velvet Underground, David Bowie, Sex Pistols e Iggy Pop, bem como Kraftwerk, banda que posteriormente se tornou uma influência muito maior para o New Order. Eles também citaram Siouxsie and the Banshees como uma de suas principais influências.

O Joy Division começou tocando Punk Rock mas evoluiu para o Pós-Punk logo no primeiro álbum. A sonoridade do grupo passou a ser muito criativa e melancólica. O crítico Simon Reynolds afirmou que "A originalidade do Joy Division se tornou realmente evidente quando suas músicas ficaram mais lentas." Na descrição de Reynolds "O baixo de Peter Hook era responsável pela melodia, a guitarra de Bernard Sumner preenchia as lacunas ao invés de encher o som do grupo com riffs densos e a bateria de Stephen Morris parecia circular o contorno de uma cratera." Bernard também descreveu o som característico da banda, em 1994: "Ele saiu naturalmente: Eu trabalhava mais com ritmo e acordes, e o Peter com melodia. Ele costumava tocar o baixo muito alto porque eu gostava que minha guitarra soasse distorcida, e o amplificador que eu tinha só funcionava no volume máximo. Quando Peter tocava o baixo, ele não podia ouvir a si mesmo. Steve tem seu próprio estilo de tocar, que é diferente dos outros bateristas. Para mim, o baterista em uma banda é o relógio, mas Steve não seria o relógio, porque ele é passivo: ele seguia o ritmo da banda, o que nos deu a nossa vantagem própria". O timbre vocal de Ian não era dotado de muita técnica, mas isso não o impediu de cantar em um baixo-barítono influenciado por um dos artistas que mais prestigiava, Jim Morrison do The Doors.

Bernard atuou como diretor musical não-oficial da banda, um papel que ele transitou para o New Order. Enquanto Bernard era o guitarrista principal do grupo, Ian tocou o instrumento em algumas músicas gravadas e durante alguns shows. Ian odiava tocar guitarra, mas a banda insistiu que ele fizesse isso. Bernard disse: "Ele tocava de forma bastante bizarra, o que para nós foi interessante, porque ninguém mais iria tocar como Ian". É visível esse modo peculiar nos shows e em alguns clipes, Ian deixava a guitarra mais alta que normalmente guitarristas deixam no corpo, e batia nas cordas sem muita atenção, demonstrando sua frustração por tocar o instrumento, cujo não queria. Durante as sessões de gravação de Closer, Bernard começou a usar sintetizadores construídos por ele mesmo e Peter começou a usar também um baixo de seis cordas para intensificar a melodia do grupo.

"Lembro-me de uma noite em que estávamos gravando Closer, muito tarde, deve ter sido por volta das quatro horas da manhã e eu estava perguntando a ele como estava sua letra e ele disse que estava incrível. Ele disse ‘está vindo uma após a outra, estou escrevendo muito rápido e sei exatamente onde está o final da música’." - Bernard

Ian escrevia letras freneticamente, então letras não faltavam para usar. Normalmente, ele primeiro ouvia o som instrumental feito pelos outros integrantes e depois inseria as letras mais adequadas. Palavras como "escuridão, pressão, frieza, fracasso, crise, colapso, perda de controle" se repetem nas canções da banda. As letras de Ian tratavam de temas depressivos, soturnos e cotidianos. Os outros integrantes afirmam que as letras refletiam profundamente a vida pessoal dele, mas que só perceberam isso depois que ele se suicidou, o que trouxe muito arrependimento aos mesmos, por não perceberem que se tratava de algo mais profundo que meros temas. O musicólogo Robert Palmer escreveu na revista Musician que os escritos de William S. Burroughs e J.G. Ballard eram "influências óbvias" para Ian, e Steve também se lembrou do cantor lendo T.S. Eliot. Ian simbolizou o clima de melancolia existencial que simbolizava uma das principais exportações musicais da Grã-Bretanha na década de 1980. Voltando a revolução Punk para dentro, as letras sombrias de Ian enfureceram a condição humana. Ele transformou as letras musicais de uma mensagem de “foda-se” para “estou fodido”.

 


O produtor Martin Hannett ajudou muito o Joy Division a desenvolver sua identidade sonora. Hannet teve como objetivo criar um som mais expansivo nos registros do grupo, colaborou bastante na inserção de elementos eletrônicos e deu destaque na “separação do som limpo e claro”, não só para instrumentos individuais, mas mesmo para peças individuais na bateria de Steve. A característica mais marcante do Joy Division é sua sonoridade melancólica acompanhada de melodias com temas existenciais, depressivos e paisagens da vida urbana em meio à revolução industrial.

Atualmente, Peter Hook não está mais na banda New Order. Formou a banda Peter Hook and the Light no ano de 2010 e segue fazendo shows tocando músicas do Joy Division e algumas autorais. A filha de Ian, Natalie, é fotógrafa e acompanhou de perto as gravações do filme Control, que conta a trajetória de seu pai.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Curiosidades

  • Como tantas outras bandas de Pós-Punk percussoras dos anos 80, o Joy Division se formou na cidade de Manchester, mas Ian Curtis cresceu ...